Episódio 57 – Abril Azul

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Oi, gente, aqui é o Fabiano, mas quem vai falar com vocês hoje é outro alguém!… O tema é autismo, e tentei escolher algumas músicas que combinassem com o tema!

P.S.: não deu tempo de ouvir antes de subir! Reclamações em @fabforte.

Conscientização sobre o autismo

Estamos em abril, mês da conscientização sobre o autismo – o dia certo mesmo é o dia 2. Com os avanços recentes da medicina, passamos de um autismo “simples” para o Transtorno do Espectro Autista (TEA), isso é, tem uma gama de coisas, um leque de coisas que podem significar autismo, que podem identificar uma pessoa autista. Não há dois autistas exatamente iguais.

Aqui em casa, temos um autista (pelo menos), o meu filho Nícolas. Aqui, o diagnóstico chegou cedo. Minha esposa, que é pedagoga e já viu umas tantas coisas por aí, me alertava para o atraso de fala do nosso filho, mas os médicos insistiam na ideia de que cada criança tem o seu ritmo e coisa e tal… Eu embarquei nessa, até que começamos a fonoaudiologia, e a profissional que atendeu o Niki tocou o alarme. Alguns meses depois, tivemos um laudo assinado por neuropediatra sacramentando o fato.

A primeira coisa foi o ruído dos sonhos se quebrando. Todas as expectativas, todas as coisas que eu tinha planejado, tudo, enfim, caindo no chão e se esfacelando.

A segunda coisa foi o ruído, aliás, a falta de ruído no cofre vazio. Mas não quero e não devo falar sobre isso aqui. Só vou dizer que estão erradíssimos todos aqueles que dizem que dinheiro não traz felicidade. Sem mais.

A terceira coisa está acontecendo e acontece todo dia: se uma criança normal já traz muito caos, muita imprevisibilidade, uma autista é isso elevado ao cubo! Não dá para garantir nada, não dá para planejar nada, qualquer movimento pode ter resultados catastróficos – como mexer o iogurte do jeito “errado”, por exemplo. Para cada avanço, um retrocesso. Minha esposa e eu estamos sempre na ponta dos cascos, e o estresse já começa a mostrar sua conta. É extremamente frustrante ter que controlar o incontrolável!

Olha, gente, é duro… esqueçam todos aqueles seriados, livros e afins em que tudo dá certo no final! Isso é romantização! Não é realidade! Ter um filho autista é, de fato, complicado! Não dá para seguir um caminho normal, não dá para não ter medo de um simples passeio a um shopping center, por exemplo (coisa que não andamos fazendo, aliás, porque são lugares muito cheios). Sem falar que o Niki tem a mania de morder as outras crianças, então, já viu, né?

Outra coisa que atrapalha e estressa muito é o excesso de informação! Tem 800.000.000 de perfis de Instagram, vídeos no YouTube, grupos de WhatsApp, enfim, um emaranhado de supostos pediatras, especialistas e afins que mais atrapalham do que ajudam, porque nem sempre dizem a mesma coisa, nem sempre concordam, e agora quem é que está certo? Sem falar de uns e outros que investem muito na própria imagem, tentando tornar-se ídolos e salvadores para os desesperados pais de autistas! Aliás, quando eu percebo muito ego, muita melancia no pescoço, muito “eu tenho a solução”, “eu vou mudar a sua vida”, já deixo de seguir na hora! E recomendo que façam o mesmo! Outro dia, vi uma usando um cérebro de espuma na cabeça!… É… fiquei pensando se era para compensar a ausência de um cérebro de verdade dentro da cabeça! E um outro todo hipster dizendo que abria espaço na sua agenda para nos iluminar com seu conhecimento… Tenha dó! E, como se não fosse o bastante, ainda tem gente que aproveita para fazer panfletagem, para fazer política, mimimi! Aff!

Ah, sim, eu comentei anteriormente que temos pelo menos um autista em casa… bem, dizem que o tal TEA é transmitido hereditariamente, então, adivinham quem está com uma guia para uma análise neuro-sei-lá-o-quê? Olha, minha primeira vontade foi a de mandar à merda, mas, parando para pensar, isso explicaria muuuuuuuuuuuita coisa, anos e anos de coisas, décadas de coisas, na verdade! Eu não vou poder fazer essa análi$e agora, por motivo$, mas, se eu fize$$e e desse positivo, teria que pedir desculpas a todo mundo que foi forçado a participar da minha vida, a me aturar sem ter alternativa… bom, só para garantir, juro que não foi por mal! Eu não quis prejudicar ninguém! Aliás, autista ou não, desculpem-me por existir, eu não mal, sou só tosco!

Assim, o que sobra?

Na verdade, sobram os bons momentos com o próprio Niki! Quando ele se diverte e dá deliciosas gargalhadas, quando ele aprende uma palavra nova, quando ele aprende um comportamento novo, quando ele se senta do nosso ladinho para ver TV… Eu sempre me lembro de me fixar nisso! Porque, para cada momento bom, tem uns tantos ruins! O amor está ali, só está cobrando um preço maior do que o previsto…

Enfim, nada de romantização: é duro, é sofrido, é caro, é cansativo! Charlatães estão por todos os lados, separar o joio do trigo é difícil pra caramba! Eu sou tosco! E aproveitar os bons momentos é indispensável! Vou abraçar o Niki, cobrir de beijinhos, brincar bastante com ele, tirar bastantes fotos! Afinal, no meio de toda essa escuridão, ele é a única luz!

Fazendo sentido (ou não)

Meu filho pegou gosto por uns vídeos beeeeem malucões no YouTube, uns em que aparecem uns animais coloridos e vão acontecendo um monte de absurdos. Para dar um exemplo: um pato amarelo está andando pela floresta. Aí, ele fica gigante, apoia a cabeça em uma plataforma e abre a boca. Dali, saem um dinossauro, um touro, um cachorro, um gato e um mamute.  Um de cada vez, esses animais vão percorrendo uma trilha, passando por obstáculos e mudando de cor cada vez que passam por uma gelatina gigante. Louco, né?

(Não sei o que esses caras tomaram, mas eu também quero! )

Mudando de assunto, no dia 25 de dezembro – também conhecido como “Natal” – do ano passado, o ex-piloto Wilson Fittipaldi Jr estava comemorando seu 80º aniversário – que era naquele exato dia – junto à sua família. Mas Fittipaldi engasgou com um pedaço de comida, e foi um engasgo tão forte, mas tão forte, que causou até problemas de oxigenação no cérebro, levando-o à UTI. Cerca de dois meses depois, perdemos Wilsinho Fittipaldi. Um ex-piloto de corridas. Alguém que arriscava a vida nas pistas por amor ao esporte. Morto por causa de um engasgo.

Agora, me diga: qual dessas duas coisas faz menos sentido para você?

Ruínas

Recentemente, fiz um post no instagram com uma citação de Mário Quintana (agora oficialmente meu poeta favorito), “Não importa que a tenham demolido: a gente continua morando na velha casa em que nasceu”.

Eu acabo de passar em frente ao terreno em que ficava o prédio da minha faculdade. Um tapume de ferro protegeu minha vista da desolação, mas dá para imaginar como está lá. No passar dos anos, já vi o prédio fechado (o que quase me rendeu uma batida de carro), já o vi reocupado, já o vi fechado de novo, e agora vejo que não está mais lá.

Naquele prédio, eu estudei, fiz amigos, tive lá meus crushes, fui crush de uma pessoa (ou, pelo menos, foi o que me disseram), tive professores maravilhosos, outros nem tanto, aprendi muito, passei muito vexame (mas, se não passasse vexame, não seria eu), fumei muito por tabela e, bem, li muito gibi, também, nas horas vagas.

Agora, a minha sensação é de que tudo isso foi ao chão.

É, Quintana, sei o que você quer dizer…